sexta-feira, 25 de março de 2011

Trânsito e Crack, a naturalização da morte

O Brasil enfrenta dois problemas graves de saúde pública que estão se tornando crônicos: o caótico estado do trânsito no país e a rápida disseminação do crack entre todas as classes sociais e faixas etárias. A junção de trânsito e drogas não é gratuita, e não só por um problema estar presente no outro.

O que ocorre nos últimos anos em torno do trânsito é paradigmático, pois os acidentes são “de trânsito” e as mortes, milhares a cada ano, são “mortes do trânsito”. Não tem donos, são vítimas. Os que matam e os que morrem nas ruas e estradas do país tem entre 18 e 25 anos. Os custos humanos e materiais atingem cerca de R$ 6 bilhões de reais e a milhares de famílias infelizes e amarguradas.
Essa naturalização das mortes por parte da sociedade e de suas representantes nos impede de enfrentar o problema diretamente devido à reação social. Vide a Lei do Fumo, em São Paulo e em outras capitais, ou a Lei do Bafômetro. Motoristas e pedestres, é sempre bom lembrar, não morrem em guerra, epidemia ou tsunami. São vítimas de causas que podem ser evitadas.

Todas as drogas são deploráveis, mas o crack parece ser mais deplorável devido a uma pretensa democratização que promove, pois invade as famílias e vicia pais e filhos, dos miseráveis aos ricos. Esta capacidade de se instalar e destruir, aliado a outros sinais sócio-econômicos, mostram que a capacidade de sedução do crack, e sua facilidade em se espalhar, fazem desta droga uma das mais letais. E não só para os seus usuários.

Relatório da Polícia Rodoviária Federal sobre exploração sexual de crianças nas estradas brasileiras mostra que pontos de prostituição estão sendo invadidos por crianças. Elas buscam as estradas por ficarem próximas de pontos de venda de crack. Assim, meninos e meninas passam a noite fazendo programas, e indo dos veículos aos pontos de venda da droga. Basta dois reais para o usuário adquirir uma pedra de crack, baixo valor que estimula usuários de cocaína a promoverem a troca de aditivo químico.

Trata-se de caso emblemático revelado pela Polícia Rodoviária, pois demonstra a proximidade de três temas sensíveis: exploração sexual de crianças (crime hediondo); tráfico de drogas (crime inafiançável), e perigosa proximidade entre malha viária do país e a droga. As rodovias são as veias que irrigam o Brasil, que integram o Norte ao Sul, o Centro-Oeste ao Litoral.

Pois bem, relatos da mídia nos trazem a crônica de horrores das cidades, sejam burgos ou metrópoles. Em todas se institucionaliza as “cracolândias”, locais de livre uso e venda do crack. Pesquisadores e clínicos concordam com os perigos do crack para a sociedade. E a Polícia Federal prova que esta preocupação tem motivo: em 2005 foram apreendidos 140 quilos da droga em 2007, meia tonelada.