segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Manifesto dos Mineiros

Minas Gerais comemorou com generalizado respeito e apreço histórico a data do chamado “Manifesto dos Mineiros” de 1943, quando personalidades ilustres do estado lançaram seu protesto contra a ditadura de Getúlio Vargas.

O Manifesto, de claros objetivos democráticos e inspirado no velho espírito liberal de Minas, teve a maior repercussão e expressou, de certa forma, a continuação de lutas contra à ditadura, sendo de se destacar o episódio ocorrido em fins de 1942, quando o ex-presidente mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, através de notável entrevista ao jornalista Samuel Wainer, fez declaração contraria a ditadura e ainda a carta subscrita por Armando Sales de Oliveira, o valoroso líder paulista exilado na Argentina, que se dirigiu ao povo brasileiro logo após a manifestações dos mineiros. Ele fora candidato oposicionista a Presidência da Republica em principio de 1977, antes do golpe.

O Manifesto trás consigo um apelo democrático para o futuro, mas ainda traduz consequências políticas marcantes, ocorridas nas vésperas do golpe de Estado de Getúlio em novembro de 1937.

O apelo democrático representava também o apoio às forças Aliadas, que na Europa lutavam contra o nazifascismo, o qual, em certo momento, teve a simpatia de Vargas no celebre discurso no navio da Marinha Nacional de nome “Minas Gerais”, com repercussões negativas contra o Brasil.

Aliás, nos tempos ditatoriais de Vargas a violência policial dominou o país, ação era total, pois todos os dirigentes estaduais, os interventores que substituíram os governadores, eram pelo ditador nomeados arbitrariamente, e estes, por sua conta, designavam os prefeitos de todas as cidades dos respectivos Estados.

Para dar o golpe de 1937, Vargas, inicialmente com apoio de Benedito Valadares, conseguiu congregar a maioria dos deputados estaduais e grande parte dos deputados federais de Minas, com exceção daqueles que seguiam a liderança de Antônio Carlos e Arthur Bernardes e temiam a vocação autoritária do Presidente Getulio Vargas.

Getúlio e Benedito conseguiram de fato antes de 1937 um apoio efetivo da maior parte das elites políticas mineiras que acreditavam nas suas palavras democratas em favor da candidatura á Presidência de José Américo Almeida. Mas inesperadamente, Vargas dá o golpe ditatorial de 1937 fechando o parlamento e surpreende com a atitude traiçoeira estas elites que ficaram, assim, ludibriadas, como atesta bem em seu livro de memórias o antigo deputado Paulo Pinheiro Chagas.

Desta forma valorosos homens públicos mineiros, ao lado dos opositores à Vargas antes de 1937, se uniram para elaborar e assinar o “Manifesto dos Mineiros”, que, aliás, foi impresso secretamente em uma tipografia de nome Bazar Moderno na cidade de Barbacena e continha, uma farta doutrinação democrática contra o ditador.
A fase ditatorial, de Vargas, iniciada em 1937 recaiu de maneira arbitrária e até criminosa contra figuras históricas, como Luis Carlos Prestes e sua esposa Olga Benário, entregue aos alemães que a assassinaram, contra Graciliano Ramos, literato ilustre que descreveu uma obra sobre as violências que sofreu e além de vários cidadãos que foram exilados ou perseguidos dentro do país.

Naquela fase uma série de medidas arbitrárias atingiram todos aqueles que assinaram o Manifesto, ora com demissões do serviço público, ora com pressões policiais, ora com ameaças veladas ou públicas, ora com a suspensão de prerrogativas individuais então existentes.  Tais decisões do governo ditatorial aumentou a indignação e incrementou a atividade da resistência democrática.

Já em 1944, quando a Guerra começava a dar mostras favoráveis aos Aliados contra o nazifascismo, o enfraquecimento de Vargas tendia para sua deposição, o que ocorreu em 1945.

Conclui-se, portanto, que o “Manifesto dos Mineiros” constituiu-se em uma causa básica para incentivar no país a vocação democrática, e foi em decorrência dele que os três grandes partidos nacionais, nascidos em Minas, UDN, PSD e PR se estruturaram como pilares da democracia que seria implantada com a Assembleia Nacional Constituinte de 1946.

O documento político dos mineiros que está sendo comemorado com várias solenidades em Minas Gerais se apresenta desta forma, como uma contribuição à evolução democrática, sob o velho espírito liberal das nossas montanhas, e faz parte do acervo histórico da política brasileiras como sendo fonte de resistência às tentativas autocráticas e ditatoriais, que infelizmente até hoje existem no país. 

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