sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Os restos mortais de Jango

Após 37 anos, os restos mortais de João Goulart são levados de São Borja, no Rio Grande do Sul, para Brasília, debaixo de um cenário de grande publicidade, obedecendo a um ritual preparado pelo governo, com a presença de personalidades do ambiente oficial da presidenta e de alguns ex- presidentes.

É estranho que esse deslocamento dos restos mortais do ex-presidente para Brasília tenha sido precedido pela sua exumação em São Borja, para que fosse realizada pesquisa técnico-científica das causas de sua morte, diagnosticada como decorrente de problema cardíaco, na época do falecimento.

Politicamente, essas homenagens ocorridas dezenas de anos após a morte de Jango, pelo governo da atual presidenta, se acham bem dentro da lógica do regime atual, que sabe utilizar os meios de comunicação para suas propagações partidárias e ideológicas.

Na verdade, há um desdobramento na política nacional que revela, claramente, que o populismo de Getúlio Vargas é o pai do populismo de Jango e, como este, é predecessor de Luiz Inácio Lula da Silva. Constata-se claramente que Getúlio, Jango e Lula são herdeiros das concepções populistas de manipulação das massas no Brasil.

Todos três se valeram das camadas populares para atingirem seus objetivos. Vargas incentivou o sindicalismo político e iniciou a movimentação de suas lideranças ao lado da crise social que soube estimular. Jango tentou levar o sindicalismo político até os seguimentos militares, além do apoio aos setores radicais de esquerda. Lula também saiu de dentro das massas sindicalistas, descendentes das velhas técnicas de Vargas, embora adaptadas aos novos tempos, inclusive com algumas novas técnicas de ação política.

É compreensível, portanto, que atual presidenta, fruto de uma máquina política criada há mais de cinquenta anos, se sinta obrigada a reconstituir esses fatos do passado que fazem parte da sua história e das suas conquistas eleitorais.

Tudo, porém, provoca certo mal estar para aqueles que respeitam cristãmente o episódio dos desaparecimentos humanos. Estes não podem aplaudir plenamente esse tipo de evocações. Jango, pelas suas condições históricas e pelo seu sofrimento - que indiscutivelmente viveu -, merece respeito dos seus concidadãos, que não aceitam a utilização de seu drama com o espetáculo que, entorno dele, está ocorrendo.

Jango é um ex-presidente da República que marcou com sua presença um momento significativo em nossa existência política e, como todo homem público, teve os aplausos dos companheiros e as críticas dos adversários. Como personalidade histórica há de ser tema para os estudiosos, mas, como figura humana, precisa ser respeitado.

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